História

Terezinha Dora Abreu de Carvalho nasceu em 1936, em Vitória, Espírito Santo.
Desde jovem demonstrou interesse pela música. Ela iniciou seus estudos musicais na infância em sua cidade natal. Posteriormente, deslocou-se para o Rio de Janeiro para aprofundar sua formação, onde ingressou na Escola Nacional de Música (atual UFRJ).
Na sequência, especializou-se em Harmonia e Morfologia no Conservatório Brasileiro de Música. Essa formação lhe deu bases sólidas tanto para compor, quanto para lecionar e organizar atividades musicais pedagógicas.
Após seus estudos, Terezinha Dora retornou ao Espírito Santo, por volta de meados dos anos 1970, para lecionar. Ela integrou o corpo docente da antiga Escola Estadual de Música do Espírito Santo (EMES), que hoje é a Faculdade de Música do Espírito Santo – FAMES. Também atuou na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Na UFES, ela teve papel central na criação do primeiro Programa de Música da instituição. Esse programa não era apenas acadêmico: envolvia pesquisa, preservação da música folclórica como patrimônio cultural e a promoção de atividades musicais diversas.
Entre os projetos que ajudou a implementar ou coordenar na UFES estão:
• Bandinha Rítmica Infantil
• Conjunto Regional Universitário
• Grupo dos Chorões
• Coral da Universidade Federal do Espírito Santo
Além disso, foi idealizadora e promotora do Salão do Compositor Capixaba, evento local com múltiplas edições que teve como objetivo divulgar obras de criadores do estado, tanto da música erudita quanto de vertentes populares, estimulando a criação musical local.
Além do trabalho docente e institucional, Terezinha Dora também esteve envolvida em momentos de resistência cultural, especialmente durante o período da ditadura militar no Brasil.
Um trabalho acadêmico “Música, resistência e ditadura: A atuação de Terezinha Dora e o Festival de Verão (1971)” analisa duas iniciativas de fomento musical em que ela esteve envolvida: o Programa de Música da UFES (já mencionado) e o Festival de Verão de Guarapari, em 1971. Esse festival foi, em seus relatos, uma das formas de manter viva a música local, expressando identidades culturais mesmo em ambiente de censura.
Obra, estilo e inventário
• A análise da dissertação Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936-2017): aproximações entre vida e obra, de Gabriel Guerra de Azevedo (2025), identificou cerca de 50 obras atribuídas a ela, todas em manuscrito; ou seja, obras que não foram amplamente publicadas formalmente.
• Algumas peças editadas ou gravadas em iniciativas de pesquisa incluem Felicidade, Infância, Ponteio, que fazem parte do material analisado nessa pesquisa acadêmica.
• Na websérie Paisagem para Piano, peças suas como Minha Santa Catarina, Chorinho e Velha Canção foram interpretadas por jovens músicos a partir dos manuscritos confiados por Terezinha Dora. Essas obras demonstram uma estética que combina lirismo, influência da música regional capixaba, arranjos para voz ou piano, valorização do afeto e da paisagem cultural local.
Legado e reconhecimento
• Terezinha Dora faleceu em 2017.
• Mesmo após sua morte, sua obra tem sido objeto de resgate: a websérie Paisagem para Piano (2025) busca divulgar sua biografia, suas composições, seu papel autoral, promover recitais, gravações e análise de partituras.
• Na Universidade Federal do Espírito Santo, eventos de homenagem e recitais continuam a executar suas peças e revisitar sua vida no contexto da história da música capixaba.
• Existe também, em FAMES/UFES, o prêmio ou troféu “Terezinha Dora” concedido na Mostra do Compositor Erudito Capixaba, em reconhecimento à sua importância.
Avaliação artística: estilo, contribuições e importância
Terezinha Dora foi uma compositora que transitou entre vertentes eruditas e influências regionais. Sua música dialoga com memórias, paisagens culturais do Espírito Santo, com temas populares ou tradicionais (como festas, congós etc.), mas tratados a partir de uma formação formal erudita. Ela também foi arranjadora, docente e mentora, alguém que construiu estruturas para a música ‒ tanto em termos institucionais quanto em repertório ‒ no seu estado.
Sua importância artística vai além das composições: está no papel de preservadora da tradição musical capixaba, no estímulo à criação local, na promoção de festivais e atividades culturais, muitas vezes num contexto de pouca visibilidade oficial. A sua obra manuscrita acumulou material que ainda está sendo editado, estudado e gravado agora, o que atesta tanto uma produção generosa quanto o desafio de visibilidade que enfrentou.